11. Andrei Tarkovsky - O Espelho (1974)

Saturday 28 February 2009

Inaugurei meu pequeno texto sobre a arte com uma frase de Tarkovsky, pois considero a citação um feixe de luz que adentra a caverna abissal do saber artístico, assim como no ilustre mito. Este russo que figura o título é dono de uma das carreiras mais brilhantes da história do cinema, e a sua influência na sétima arte se alastra até hoje por todas as dimensões e sentidos. É difícil descrever o tamanho de sua importância - tal o seria com Kubrick, Kurosawa, Bergman, Einsenstein etc - para nós, intelectualóides, mas tentar, graças a Deus, não é preciso, pois aqui me abstenho a apenas uma de suas obras, e deixo os méritos do mestre para outra ocasião(e talvez para outro escritor, heh).

Em 1974, Tarkovsky volta à sua infância e narra o cheiro de orvalho das folhas e do café da manhã quentinho do interior onde vivera, enquanto sua mãe lhe ajustava os cabelos, e as reminiscências têm, enfim, o papel principal numa obra de cinema.

O verde protuberante impregna a fotografia da película, antes de ter seu dna fragmentado no amarelo cinzento dos horrores da guerra e o p&b da realidade presente(atual). O filme brinca com as cores na mesma passada em que o faz com as linhas narrativas e o tempo verbal; as memórias de repente não são mais memórias, e o sorriso de sua ex-mulher é na verdade o abraço apertado de sua mãe.

Trata-se de uma estória épica sobre nostalgia e sentidos existencialistas, onde Tarkovsky não liga em explicar as lembranças avulsas de sua infância e aparenta estar contando uma história para ele mesmo, e para mais ninguém. O espectador é passivo, não participa do enredo nem muito menos é abraçado pela saudade do filme, mas sente-se intruso, como se lendo o diário de alguém. Alguém com um ponto de vista disperso sobre a vida e valores.

Vemos então a imagem de uma mulher(sua mãe) com os cabelos molhados e uma tomada maravilhosa onde o teto da memória desaba e as linhas narrativas misturam-se, os espelhos confundem-se e as personagens se repetem. Uma odisséia de sentimentos é desencadeada e mistérios da mente humana são explanados com exemplificação prática, que termina do jeito que começa: saudosista.

Um homem deitado em seu leito de morte, e um pássaro livre. Sua mãe, sua ex-mulher e seu filho criança, os protagonistas da Rússia de uma lembrança.

5 comments:

Clementine said...

NÃO VOU COMENTAR. 94? 94? Porra, você deu APENAS 86 para Acossado. 86 para ACOSSADO. ACOSSADO: 86! (Foi 86? Não lembro direito eu estava trabalhando quando abriu uma janela com um certo alguém falando sobre a mísera nota que segundo ele Acossado merecia. Aliás, merecia algumas vírgulas, o período anterior ).

sem mais said...

Eu nunca vi Acossado, mas ele é mais lembrado por ser revolucionário do que pela qualidade [claro, qualidade comparativa dentro da obra do próprio Godard; Alphaville, Pierrot Le Fou, Desespero, etc, são bem mais louvados, i guess], o que faz 86 uma nota talvez até superlativa. Já o Tarkovsky é supostamente brilhante all around, embora eu não lembre do espelho sendo elevado dentro da carreira dele, etc.

Me deu uma vontade desgraçada de ver, o que são parabéns mais do que o parabéns-palavra sozinho pode parabenizar.

Jimmy said...

Na verdade, eu esqueci de falar várias coisas que eu queria ter falado, e a empolgação me obrigou a escrever o texto imediatamente (quando eu não tinha tempo necessário), porque tipo eu não citei defeitos e eu odeio escrever uma review sem falar de defeitos. Dá a impressão errada da coisa.

Clementine said...

Ah! A questão nem é tanto por ser Acossado - como eu brinquei com o Jimmy, quando disse que a nota deveria ser, no mínimo, 100- a questão é que eu sou putinha (LÁ ELE!) do Godard. E eu tenho essa mania de ver qualquer filme dele como metonímia, então, nunca sei se estou falando do filme, especificamente, ou de toda a obra godardiana.

E, sei lá, eu tenho uma ligação com com Acossado... (tudo bem, eu tenho uma mais forte, talvez, com Pierrot Le Fou. Marianne Renoir. *O*. E isso não era para soar gay. Eu também tenho uma história com Le Petit Soldad, por ser o primeiro do Godard que assisti, e, sei lá, esse filme mexeu comigo de uma forma surreal; "Precisamos de um pouco de Haydn, de um bom e velho Joseph Haydn." Alphaville é ALGO e, ainda, tem o "This love is...". Sim, parei. "A Brigitte Bardot está envelhecendo..." Não, essa não foi uma forma de falar sobre O Desprezo depois de ter dito que parei.)

Em The Dreamers, quando Acossado é 'citado', eu lembro que quase dei um pulo quando vi e tal. (sim, eu sei que Pierrot Le Fou também foi citado, a questão nem é essa!) E não era isso que eu ia falar, mas eu sei que citaria The Dreamers. Acho que eu falaria algo sobre o fato de uma das leituras possíveis, a que mais me agrada, talvez, é a de que, dada a temática do filme, a citação não é, diretamente, de Acossado, mas, sim, de Godard. Mas eu me perdi. Preciso parar de escrever demais.

Enfim, falando sobre Tarkovsky, não é que eu desgoste de O Espelho. Eu gosto, bastante. Não concordei com os 94? Não, não mesmo. Mas eu já expliquei. Ou não. Pelo menos, tentei explicar.

E, ah! eu prefiro Solyaris. E, não, não tem nada a ver com as referências a 2001. A Fantástica Fábrica de Chocolate também faz referência a 2001 e... OK, ESSA FOI UMA FORÇAÇÃO, FOI PREMEDITADA. Parei.

E, só para fechar, "Numa manhã, faltou a um de nós o tabaco, e daí Godard decidiu filmar: 'nasceu' a Nouvelle Vague." As aspas simples em 'nasceu' são para evitar questionamentos lógicos.

Sim, essa é a parte em que eu me permito ser fútil e comento que fazia parte de uma comunidade do orkut chamada "Processando Godard". (eu entrei porque gostava da ambiguidade sugerida pelo título. Droga, eu gostava do trema). Vou começar a fumar , esperar o câncer de pulmão se manifestar, e processar Godard. O problema é se Deus tiver péssimos roteiristas, for um péssimo diretor e decidir fazer com minha vida o que os carinhas lá fizeram com Constantine-Não-Loiro (DEUS! Lucibel chorou vendo esse filme. HAHAHAHA Saudades do Luci. Quando ele aparecer no msn, falarei com ele.): retirar o tumor. Vergonha alheia desse filme. Adaptação medíocre.

É.
Parei.

P.S.: Meninos, bem que vocês deveriam fazer um post sobre Guilty pleasures. Eu vi um dos meus, hoje. (HAHA!) Eu até faria, mas estou cansada. Nem café está dando jeito. Acho que vou dormir um pouco. Amanhã, tenho de chegar no trabalho duas horas antes do horário normal, porque acontecerá um grande evento lá e tal.

P.S.S.: Tenho a impressão de que nada que eu disse faz sentido. Acho que é por causa do torcicolo, e do sono. E isso, também, não faz sentido. =/ Eu sei, é tudo sem sentido...