3. O Rastro Da Arte - Introdução

Wednesday 14 January 2009

"Você olha para um relógio. Ele funciona, mostra as horas. Você tenta então compreender como ele funciona e o desmonta. Ele não funciona mais. E no entanto essa é a única maneira de entender..." Tarkovsky, ANDREI


Woody Allen afirma que a arte é, metafórica e praticamente, o catolicismo dos ateus. A esperança de que existe algo além do monótono espaço/tempo, o oásis das setenta e duas virgens, a mágica, o néctar doce do talvez. De fato, não é difícil enxergar através desta perspectiva quando se tem em mãos um livro de Bukowski, Dostoievski, ou quando se ouve um noturno de Chopin, mas a indecência de tal ponto de vista – herético - propõe questões existencialistas e antropológicas que circundam o ser e os porquês da manifestação artística.

Quando Albert Einstein disse que não é possível estar vivo sem acreditar em nenhuma mágica vivente e adimensional, ele falava de astros e deuses, mas por que não acrescentar a arte neste conjunto? Afinal, os homens não podem soltar raios pelas mãos, nem possuem varinhas de condão, mas, céus, eles criam músicas, desenham sonhos, quebram vorazmente os limites do símbolo e descrevem paisagens inteiras com sentimentalismo focado - e, mesmo assim, poucas vezes se vê alguém questionar o que tudo isso significa. John Lennon cantou “Give Peace A Chance”, Bob Dylan disse “the answer is blowing in the Wind”, Pessoa escreveu “o poeta é um fingidor” e Machado, “assim corre a sorte do Homem”, mas o que tudo isso quer dizer? Deixando, claro, a semântica de lado, todos estes pedaços avulsos são estranhos lapsos na história, e cada um caminha lado a lado de seu próprio significado, ao passo em que são apenas palavras organizadas de certa maneira, algumas vibrações sonoras ali, e nada mais (significam).

Além disso, o conceito de que a arte é um artifício didático que ensina o homem a lidar consigo e com sua história é piegas e, até mesmo, demoníaco, mas então, o resto trata de segurar água com as mãos. O que é a arte? O que tudo isso quer dizer?

Uma promessa? Não de vida após a morte, nem de sexo inexorável, mas a promessa de uma outra existência concomitante e indescritível que se manifesta nas mãos do Homem e transborda em seu coração como se simulasse o sexuado movimento de viver? Uma constante tendência que o homem possui de seguir os passos de seu (inconsciente) Criador e se auto-questionar, ao passo em que questiona, também, o mundo e as pessoas ao seu redor? Algo entre um acumulado de experiências e a expressão de todas as perguntas que elas geram? Artifício de prazer? Refúgio mental para o estorvo da racionalidade? Talvez uma orgia de todos os raciocínios avulsos e incompletos supracitados, talvez nenhum deles. Arte é arte, e ponto final.



(A seguir, um pouco de arte)



7 comments:

Jimmy said...

Estou apenas testando o comportamento de alguns templates, não precisam me crucificar.

sem mais said...

Arte é arte, mas para a arte ser arte, a arte não precisa ser algo mais?

E, a ser considerado, a parafrase do Tarkovsky também supõe que a mágica da arte se encontra - da mesma forma que a mágica da mágica-como-espetáculo - no quanto menos se compreende daquilo que acontece. Se levada a sério, tal qual uma religião, o efeito será dissipado; isso acaba criando um interessante paradigma de que nunca se pode ser artista e expectador ao mesmo tempo [isso posto, um não poderia ser juiz de seu próprio trabalho. Ao mesmo tempo, de acordo com William Faulkner, o verdadeiro artista lê e ouve as críticas, mas considera a própria opinião sobre o próprio trabalho acima de tudo -- e eu concordo].

Aliás, isso até seria irônico se não fosse perfeitamente apropriado: todos os críticos do blog são[aspirantes a] artistas. Gostei bastante do texto, enfim.

PS que template é esse. Eu vejo pr'onde você vai, mas eu não entendo exatamente o que são esses desenhos nos cantos. Pedras? Nuvens? -- acabei de sacar, é um farol. Ok. Já perdi tempo escrevendo, não vou apagar.

Clementine said...

Ler um post desse logo pela manhã acaba com a produtividade do meu dia. Todas as minhas atividades diárias serão interrompidas por devaneios, reflexões. Eu sei que deveria comentar direito, mas não consigo dizer muita coisa além de que o post foi lindo.

Clementine said...

Sobre o template, qual seria a graça se não te sacrificassemos? (eu acho que tem um acento em algum lugar dessa palavra, mas estou com preguiça de tentar descobrir a sílaba).

Agora você está usando o template do blog do Digo. haha Ok, eu devo estar sendo chatapracaralho.

Jimmy said...

Na boa, eu gostei do template. É gay sem ser muito sujo e pesado, e por enquanto é o meu preferido. E esse texto, aí, é fruto de muita cachaça e insônia, então, talvez ele não valha a pena. De qualquer forma, ele é só a introdução de uma série de raciocínios em cima de um fator interessante sobre a arte. E prometo falar mais de cinema, nos que seguem.

Jimmy said...

Lol, troquei de novo. Acho que esse ficou legal, o que vocês me dizem?

Clementine said...

Primeiro, o texto ficou ótimo, e vale a pena, sim, "arte por ela mesma", lembra? Ok, não que eu seja uma defensora disso, não que esse seja o caso, não que... esquece.

Segundo: Esse é o melhor template de todos.XD