2. Dazed and Confused (1993)

Monday, 12 January 2009

Uma crença surgiu dentro de mim nos últimos anos, crença de que a globalização fez com que a maioria das pessoas, todo mundo talvez, se tornasse inquestionavelmente deslocado no espaço e no tempo. Quanto mais fácil o acesso a arte - antiga, especialmente - e a aproximação a diferentes culturas, mais nós nos relacionamos com algum outro lugar ou outro tempo ou lugar-e-tempo diferente que nos parece muito mais afim das nossas próprias sensibilidades.

No epicentro dos fatores que definiram o nascimento rasteiro dessa idéia[sic], embora não sozinho lá, encontra-se Jovens, Loucos e Rebeldes, uma das despreocupadas obrasprimas de Richard Linklater, concebida em 93 porém vítima de uma gravidez recuando à 76; embora claro, claro, que enquanto arte, é uma produção irrepreensivelmente vinculada à nostalgia de um homem de pelo menos alguma idade a mais do que 16 ou 17 anos. Ao mesmo tempo, porém, que é logrado um esforço tão grande na captura visceral e magnânima de tal zeitgeist - assim me dizem em palavra escrita aqueles que presenciaram as semelhanças do filme in loco -, há a captura de um outro zeitgeist atemporal, que reside no acúmulo de idade de cada geração, independente do lugar e da época, um momento de conflito entre a juventude e a vida adulta.

O filme acontece num espaço de 2 dias no início das férias de verão de 76, acompanhando os novos integrantes do ensino médio [ou o correspondente americano] e os recém-feitos veteranos. Como de costume nos filmes de Linklater, o resultado final é um história costurada principalmente através de momentos, sem nenhuma grande necessidade de explorar um tema ou uma trama, ou desenvolver nada mais profundo do que a qualidade de ocasionar bons momentos; da mesma forma, até mesmo os conflitos não apresentam nenhuma intenção de concluir nada, são clímaxes em si só, passageiros e esquecíveis como as histórias que se compartilham em rodas de amigos. Há, porém, uma clara linha subterrânea que vem à superfície de tempos em tempos na forma da declaração [manter-se limpo, não usar drogas nem consumir álcool enquanto estiver no time de football] que deve ser assinada pelos jogadores. A declaração é a força de coesão do filme, definindo claramente o conflito proposto acima como o zeitgeist humano de transição e maturação.

Embora uma viagem a ser considerada como uma sucessão louvável de excelentes momentos atrás de excelentes momentos, com a vida [e o filme] se apresentando de forma tão pura em termo de garotas, drogas e rock'n'roll, é o agridoce do final que nos abandona tão expatriados na subida dos créditos. O que nos atinge como melancolia no final é a forma como, enquanto jovens, despercebemos a beleza da vida o bastante para acreditarmos nela como beleza, fazendo da memória um fardo tanto pela intensidade mal direcionada como pelo quão aquém é a nossa atenção ao momento, e também pelo nascer do sol como um novo dia, nos fazendo um ano mais velhos e esses bons momentos um pouco mais lembrança do que momentos.

A saudade de um momento não vivido é parte do que define a nossa vida recente, a nossa vida desse mundo, a nossa vida de cinéfilo ou leitor inveterado ou sei lá. Isso me foi perceptível quando eu estava dentro dos carrões antigos, com uma lata de cerveja na mão, ligando o rádio e, não importando a estação que eu sintonizava, encontrando bons amigos dos LPs quase furando guardados no meu armário, mas cimentou na minha mente apenas quando o Lynyrd Skynyrd ecoou pelo quarto com Tuesday's Gone e eu soube que eu nunca tinha estado lá de verdade.

6 comments:

Jimmy said...

é o que temos quando se convida um jornalista para um blogue. Um texto desabafo, quase gay e sem maiores pretensões que não a de ser divertido e expor momentos fodas e avulsos. Aliás, não foi exatamente isso que você escreveu sobre Dazed And Confused? Molequinho.

Jimmy said...

reli e discordei do meu comentário anterior. Trata-se na realidade de um texto bem pretencioso. E bom.

sem mais said...

Engraçado que eu ia começar dizendo que esse texto era uma espécie de termômetro anal desse blog, exatamente pelo quão material-de-jornal ele é, mesmo tendo lá sua fuga da forma mais padrão. No mais, eu relutantemente evitei escrever como eu escreveria num fórum, basicamente por escrever em fóruns sempre contando com o comentário subsequente dos membros. Isso posto, acredito que só vá se firmar um nível decente quando eu entender como funcionarão as coisas aqui, daqui há alguns textos.

sem mais said...

Ah sim e eu acho que as mudanças de layout deveriam ser tomadas em decisão editorial com todos os membros presentes com voto aberto e mão levantadas, na minha opinião. Eu tenho zero problemas com totalitarismo, desde que eu seja o ditador.

Abraço,

Jimmy said...

Mas sério, todo mundo percebeu que você escreveu aquele final "cerveja na mão, ouvindo Lynyrd Skynyrd" porque sacou que o texto tava homossexual demais, nem adianta.

Clementine said...

Não tem mais graça vir aqui e dizer "GAY!", porque o Jimmy já o fez. Mas acho que é válido dizer que eu adoro o filme e fiquei gay lendo o post.

Aliás, já te disse, Jimmy, pare de roubar minha ÚNICA função neste blog: comentar os posts alheios.

P.S.: O que eu disse sobre o novo layout? Eu acho que disse que gostei, mas acabei de perceber uma coisa: está me lembrando MUITO o blog do Kain. Não que tenha algum problema, mas sei lá, tá me confundindo.