Encerramento d'O olho interminável [cinema e pintura], Aumont, Cosac, 2004, Minion Pro.

Sunday 5 July 2009

Uma conclusão não é nem indispensável, nem realmente possível, a não ser, talvez, para fingir se perguntar: "Por que Godard?". Mas a resposta só poderia decepcionar: Godard conclui, regularmente, ou pontua todas as tentativas teóricas que não querem permanecer no cinema clássico, e a razão, confessada ou não, é sempre a mesma: ele encarna, a um só tempo, a herança e sua consciência, a memória de uma hostória do cinema e sua colocação em jogo, ele é hoje o "patrão" que os jovens cineastas e os críticos escolhem, ou contra quem eles se levantam - dá no mesmo; ele é um dos últimos dessa geração que quis, e por todos os lados, fazer do cinema uma arte.

Ser um artista ou não ser cineasta: é, ao menos desde Salve-se quem puder, a exigência de Godard. O Scénario du film "Passion, que citei várias vezes, é provavelmente, antes de tudo, daí seu lado um pouco desagradável, um autorretrato de Godard, como artista-artesão se mostrando em meio aos recursos técnicos de sua arte O sentido se estreita incessantemente em torno dessa linha: o branco da tela - a página-branca - o sol ofuscante sobre a page/plage - os olhos exaltados para ver melhor - a linha de criação dolorosa. (E, por essa evidente alusão a Joseph Plateau, Godard acrescenta um toque ao retrato: ele se torna, também, o cientista que sacrifica tudo, seu próprio corpo, à ciência. Obsessão, antiga, de Godard : negar que o artista possa não ser um homem de ciência). Em seus filmes recentes, Godard figura nas bordas, nas margens, às vezes apenas por intermédio de seu nome: como figurava o pintor seguro de sua arte, com a cabeça virada para o espectador, modesto e orgulhoso no canto da tela. É por toda essa atitude, possessiva e laboriosa, a um só tempo, que Godard se coloca como artista. E é por isso que ele escolhe para si, mais ainda do que o do músico, o modelo do "pintor": para poder assinar melhor. "Doravante, os escritores escreverão suas obras completas~: Malraux, podemos nos lembrar, havia estendido a Picasso essa formulação de GOethe, como Godard não a reivindicaria? Seu controle, em todo caso, é tão perfeito, tão pouco duvidoso, que Godard é hoje o único cineasta que pode, como outrora Chalin, trabalhar por esboços sucessivos, deixar e retomar uma obra, transformá-la, até mesmo inacabá-la... O único a conhecer a solidão do pintor, o último, talvez, a acreditar ainda nos segredos da invenção criadora.

Sobre a modernidade de Godard, nada a dizer. Ela é seu desejo constante: Godard não tem o que fazer com o "pós-moderno", que ele havia intentado, por conta própria, e praticado antes de todo mundo; ele continuará sendo sempre o primeiro cineasta moderno, aquele que conduziu o cinema às portas das revoluções formais do início do século XX, e que só pode, no fundo, desejar que ele morra no momento em que se desenhar a possibilidade para ele de reencontrar sua contemporaneidade.

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1 comments:

Clementine said...

Deixem de preguiça e atualizem.